sábado, 20 de agosto de 2016

Lido: O Messias de Duna

O Messias de Duna (bibliografia) é o segundo romance da série Duna, de Frank Herbert, que começa com um dos grandes clássicos da ficção científica, centrado na chegada ao poder, num planeta aparentemente insignificante mas fulcral por ser o fornecedor único, monopolista, de uma substância que permite as viagens espaciais, de Paul Atreides, um jovem que começa por ser alheio ao planeta mas depressa se acultura e opera uma fusão bem sucedida entre a sua cultura de origem e aquela que vai encontrar no seu novo mundo.

Duna é um romance particularmente rico precisamente por isso, por consguir entretecer de uma forma bem sucedida intriga política com uma base económica sólida, ainda que algo fantasiosa, com uma cultura humana num planeta distante que consegue ser mais alienígena do que muitas culturas alienígenas que a FC nos legou, por mais de perto que se baseie nas culturas da grande faixa desértica que ocupa o planeta Terra desde a costa atlântica de África até às estepes da Ásia Central, e tudo isto com um sistema místico-religioso muito próprio, baseado nas propriedades precognitivas de uma droga que a ecologia única de Arrakis, o planeta vulgarmente conhecido como Duna, produz. É essa riqueza que faz de Duna um clássico da ficção científica.

E é essa riqueza que está ausente deste O Messias de Duna.

Este é um romance muito mais limitado. Ambientado no mesmo planeta Arrakis mas doze anos mais tarde, numa época em que Paul Atreides consolida o seu poder no império interestelar que é a principal entidade política deste início de série (e a sua característica mais space-operática) através de uma guerra santa desencadeada por ele mas que sente fugir-lhe ao controlo, é um romance de que as questões ecológicas e culturais tão presentes no primeiro livro estão praticamente ausentes, concentrado sobretudo em questões de poder e de destino. Paul Atreides é uma criatura em luta consigo própria, carregadinha de angst, assombrada por um destino que a sua presciência lhe revela, ainda que com limitações, e que sente inescapável, e também com a irmã, também parte desse destino, mas uma parte com vontades próprias nem sempre coincidentes com as suas, uma criatura assombrada também pelo estatuto divino que adquiriu junto do seu povo e pelos temíveis adversários que esse estatuto, e a guerra que o acompanha, acabam por gerar.

O que resulta disto é um romance cujo fulcro são intrigas palacianas entrecruzadas com o fortíssimo peso que a antevisão do futuro tem na série já desde o primeiro livro (Herbert cria ordens inteiras, como a das Bene Gesserit, que têm nos planos de muito longo prazo a sua razão de existir) e servidas por uma prosa que está muito longe de ser brilhante, o que, aliás, não é novidade. É certo que lá mais para o fim irrompe alguma violência física que arranca o enredo da mera intriga palaciana, mas é mesmo só lá mais para o fim.

Para muitos leitores, certamente, isso será suficiente. Para mim não foi. Senti falta de Duna neste livro. Senti falta daquilo que, no primeiro romance, mais interesse me causou: o mundo em si e o impacto que as suas características têm sobre os seus habitantes e os que, fora dele, dele dependem. Senti falta de sair do palácio e da órbita do umbigo de Paul Atreides.

Quer isto dizer que achei este livro mau?

Não. Quer só dizer que não o achei bom. É um livro razoável, bem distante da qualidade do primeiro, mas que dá sequência à história daquele de uma forma que acaba apesar de tudo por ser sólida. Para muitos leitores isso é mais que suficiente, e até para mim bastou não só para encontrar interesse na leitura, como para ter vontade em saber o que o resto da série ainda reserva. Pelo menos até ao volume seguinte, Children of Dune.

Mas esse, infelizmente, só em inglês (ou em português do Brasil). Nunca foi publicado em Portugal.

Este livro foi comprado.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de idiotas. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.