domingo, 28 de janeiro de 2018

Lido: Tio Einar

Muitos dos escritores ativos nos géneros fantásticos (e não só, convenhamos) têm mostrado ao longo das décadas uma marcada tendência para aglomerarem as suas histórias em séries mais ou menos longas, revisitando repetidamente os mesmos universos ficcionais. É compreensível: criar mundos e/ou mitologias é trabalho árduo e é natural que os autores por um lado se apeguem às suas criações e por outro queiram explorar tudo o que elas têm para dar, ou pelo menos o máximo que lhes for possível.

Mas Ray Bradbury tem comparativamente poucas dessas séries. Tem a de Fahrenheit 451, composta apenas pelo célebre romance e por um conto publicado antes e que o romance expande, tem a das Crónicas Marcianas, não menos célebre, tem a de Green Town, que reúne histórias de infância, ambientadas numa cidadezinha do Midwest, tem uma série de histórias irlandesas, várias bem próximas do mainstream, e tem a da Família Elliot, uma família de monstros de bom coração e variados tipos de monstruosidade, muito semelhante em vários aspetos à Família Addams que conhecemos do cinema e da TV (embora tenha dito origem em comics) e que lhe é anterior.

Tio Einar (bibliografia) pertence a esta última série. É uma história que se poderia pensar ser de horror se só se soubesse que trata sobre uma espécie de vampiro ou homem alado, o Tio Einar, precisamente, mas na realidade é uma história poética, ternurenta e com bastante humor sobre a vida do protagonista desde que, depois de uma visita a alguma paragem distante, durante o voo de regresso a casa, embateu num poste de alta tensão e se viu incapaz de voar. Um desastre completo para uma criatura como ele. E no entanto desse desastre vai acabar por nascer o amor, um casamento e uma família.

Esta é uma história doce, de uma inocência quase infantil, que eu facilmente imaginaria profusamente ilustrada e publicada em edição própria para miúdos bem pequenos, o que parece nunca ter acontecido. Literariamente, é uma história tão bem escrita como seria de esperar. Mas não é das histórias de Bradbury que mais me agradam.

Contos anteriores deste livro:

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